Para toda a humanidade: realidade ou ficção?

Astronauta

Já viu a última temporada de For All Mankind? Se não o fez, SPOILER ALERT! Mas se já viu, provavelmente ficou a pensar: será que alguns dos acontecimentos mais marcantes da série poderiam mesmo acontecer na vida real? No sétimo episódio da quarta temporada, é revelada a existência de um grande asteroide com enormes quantidades de irídio. Este material, extremamente raro na Terra, torna-se valioso para qualquer país que o adquira primeiro. Mas seria possível desviar esse asteroide na vida real?

Antes de mais, vejamos porque é que o irídio é tão valioso. Trata-se de um metal surpreendentemente escasso na Terra, embora não tão raro no espaço. No entanto, há um lugar no nosso planeta onde podemos encontrar quantidades invulgares de irídio: num estrato geológico formado há cerca de 69 milhões de anos 😊. Este elemento tem diversas aplicações tecnológicas que vão desde o fabrico de canetas de tinta permanente até ao tratamento do cancro com braquiterapia. No contexto da série, o seu valor está associado à sua escassez, agravada pelo monopólio da exploração por parte da URSS, o que gera graves conflitos.

Para acabar com este monopólio, os protagonistas traçam um plano ousado: colocar o asteroide em órbita terrestre (ou de Marte 😊). 

Na realidade, o desvio de asteroides é um tema estudado por cientistas e engenheiros. Felizmente, nunca nos vimos obrigados a desviar um asteroide em situação de emergência (2024 YR4, estamos a olhar para ti), mas já foram propostas algumas estratégias teóricas (ou não tão teóricas):

  • Nuclear: consiste em detonar uma carga nuclear perto do asteroide para alterar a sua órbita. Porém, isto suscita preocupações éticas e técnicas (que deve conhecer se tiver visto o filme Armageddon).
  • Impulso cinético: implica enviar uma nave espacial para colidir com o asteroide e alterar a sua trajetória. A sonda DART da NASA, que colidiu com a pequena lua Dimorphos em 2022, é um exemplo real desta técnica.  E aqui a GMV tem tido um papel muito importante: em 2024 lançámos a Hera para estudar o impacto da DART, e em 2028 lançaremos o RAMSES para estudar o sobrevoo do asteroide Apophis, que se aproximará da Terra em 2029. Visitaremos o 2024 YR4 em 2032? Tenho a certeza que sim.
  • Trator gravitacional: consiste em colocar uma sonda próxima do asteroide e utilizar a sua gravidade para alterar o seu curso. Embora seja uma opção mais subtil e elegante, requer muito tempo e precisão — o que a torna inútil em cenários de urgência.
  • Propulsão convencional: É o método usado na série, onde se liga um sistema propulsor ao próprio asteroide e este encarrega-se de mudar a sua trajetória.
  • E muitos mais métodos que vão desde pintar asteroides, a fritá-los com um raio laser desde a Terra.

Em For All Mankind, os protagonistas recorrem a propulsores montados sobre a superfície do asteroide para alterar a sua trajetória. Mas será esta uma solução viável, mesmo num cenário de avanço tecnológico acelerado? Porque não perguntamos a Tsiolkovsky?

Foto compañeros GMV

Esta equação, apesar de tão simples, pode ajudar-nos a perceber se o desvio do asteroide é possível ou não. Mas como? 

Vamos centrar-nos no que podemos extrapolar das imagens. Na série vemos um conjunto de propulsores convencionais que estão montados sobre uma estrutura ancorada ao asteroide. Estes propulsores são ativados no espaço através de uma reação de combustão, acelerando gases de escape a velocidades da ordem de milhares de metros por segundo — valores típicos da propulsão química clássica. Também precisamos de estimar a mudança de velocidade. A velocidade típica de objetos em torno da órbita de marte mede-se em dezenas de quilómetros por segundo. Na série é-nos mostrado que, após uma manobra que dura algumas horas, o asteroide entra em órbita marciana. Se assumirmos que o asteroide sobrevoa Marte e entra na sua órbita, podemos estimar que a sua mudança de velocidade tem de ser na mesma ordem de grandeza que a sua velocidade em redor do Sol.

Assim, com uma tecnologia de propulsão suficientemente avançada, seria possível realizar a manobra utilizando uma massa inferior à do próprio asteroide — e até recorrendo aos recursos disponíveis na sua superfície para gerar impulso. Em suma, apesar de ser fascinante desviar um asteroide com propulsores convencionais, como em For All Mankind, a tecnologia atual torna-o inviável. No entanto, com o desenvolvimento de novos sistemas de propulsão, poderemos um dia aproximar-nos desta possibilidade. A exploração espacial e a defesa planetária são áreas em constante evolução, e cada missão aproxima-nos mais da gestão dos desafios do espaço.

Até lá, continuaremos a sonhar e a trabalhar na GMV para fazer do espaço um lugar mais acessível e seguro para toda a humanidade.

 

Autor: Víctor Manuel Moreno

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